No dia 25 de Fevereiro de 1855 nascia em Lisboa o poeta Cesário Verde. Morto prematuramente, foi curta a obra que nos deixou. No entanto, o carácter ousado de um realismo lírico e prosaico confere à sua poesia importância determinante no contexto da segunda metade do séc. XIX e perspectivando já algumas vertentes da modernidade do séc. XX. Trabalhador na loja de ferragens de seu pai em Lisboa, viveu, a espaços, o ambiente rural de uma quinta familiar em Linda-a-Pastora. Dessas vivências resulta o profundo conhecimento da dictomia campo-cidade, patente numa poesia repleta de motivos populares e na utilização verbal dos objectos mais triviais. A sua obra foi reunida pelo amigo Silva Pinto e publicada postumamente em 1887, com o título "O Livro de Cesário Verde".
Na nossa biblioteca à tua espera...
Na Crista da Onda, nº6, de Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada
Para saberes mais:
Ficha Informativa sobre Cesário Verde:
Eu e ela
Cobertos de folhagem, na verdura,
O teu braço ao redor do meu pescoço,
O teu fato sem ter um só destroço,
O meu braço apertando-te a cintura;
Num mimoso jardim, ó pomba mansa,
Sobre um banco de mármore assentados.
Na sombra dos arbustos, que abraçados,
Beijarão meigamente a tua trança.
Nós havemos de estar ambos unidos,
Sem gozos sensuais, sem más ideias,
Esquecendo para sempre as nossas ceias,
E a loucura dos vinhos atrevidos.
Nós teremos então sobre os joelhos
Um livro que nos diga muitas causas
Dos mistérios que estão para além das lousas,
Onde havemos de entrar antes de velhos.
Outras vezes buscando distracção,
Leremos bons romances galhofeiros,
Gozaremos assim dias inteiros,
Formando unicamente um coração.
Beatos ou pagãos, vida à paxá,
Nós leremos, aceita este meu voto,
O Flos-Sanctorum místico e devoto
E o laxo Cavalheiro de Flaublas...
Cesário Verde